Bravo Maestro! - Gil Correia

PREFÁCIO

         Talvez uma tendência comum das biografias sejam as cores heroicas com as quais se pinta a personagem descrita. A admiração costuma ser um motivo determinante na vontade de investigar e de escrever acerca de uma pessoa, e este sentimento costuma perdurar até que a obra seja concluída. Assome-se que os possíveis leitores do trabalho geralmente possuem apreço pelo tema tratado e curiosidade acerca de quem está sendo descrito. O autor e os leitores, portanto, estabelecem um encontro de horizontes mesmo antes de folhear um livro biográfico.

         Esse encontro é completado por um terceiro elemento, uma terceira margem, que, se a obra for boa, poderá ser contemplada. Tratam-se das paixões que sustentaram a vida, agora transformada em palavras impressas nas folhas de papel. Sim, porque sem paixão a vida passa em branco. Ou permanecerá no silêncio do esquecimento. Cremos que a obra redigida por Gilberto Correia da Silva acerca do Maestro Othonio Benvenuto é um desses livros que acende as paixões.

         Trata-se de um texto acerca do encanto auditivo e, destarte, em diversos momentos dá vontade de ouvir o que se lê. Ficamos a imaginar o momento arrebatador quando aquele jovem experimentou no Teatro Municipal do Rio de Janeiro os primeiros acordes da Traviata. E essa é realmente uma experiência com todas as letras, uma vivência totalmente corporal, não somente uma vibração de tímpanos. Naquele dia, o destino tocou juntamente com os músicos e os sons calaram as inquietações juvenis guiando-o para a exigente vida musical.

         Um pouco daquele dia, certamente, ecoa ainda nos que tiveram a oportunidade de assisti-lo guiando a Orquestra Sinfônica de Gurupi. Ou participando das aulas de educação musical que ministra. Então, esse amor tem sido transmitido a tantos outros que continuam a encontrar o sentido profundo da vida nas notas musicais. Isso, sim, é fazer história, impactando propositalmente o contexto em que se está.

         Seja no Rio de Janeiro, seja em Tocantins, o Maestro Benvenuto jamais passou em branco, ou melhor, em silêncio. Não ficou contemplando as novidades, apesar da contemplação ser uma atitude artística. Também não ficou somente escutando os outros, apesar da escuta ser uma virtude dos maestros. Soube falar, agir, aproveitar intensamente os momentos e, guiado pela paixão musical, transpor obstáculos.

         Iniciei o texto afirmando que as biografias costumam heroicizar as personagens, e parece que estou fazendo o mesmo. É que a música toca, harmoniza, encanta, agita esse canto profundo e mágico provocador da alegria. Sim, lê-se este livro com alegria, sob a inspiração de Euterpe, a melódica musa da clássica mitologia grega.

Ela era uma das filhas de Mnemosine, a divindade da lembrança. O escritor Gilberto Correia da Silva não nos deixa esquecer: registra com simplicidade e talento que os verdadeiros heróis atuam no âmbito cotidiano. Maestro Benvenuto, operando com apenas sete notas, se transformou em um deles.

         Prof. Dr. Eduardo Gusmão de Quadros

Coordenador do Programa de Mestrado

em História da PUC Goiás